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Veterinary Focus

Número da edição 32.3 Outros conteúdos científicos

Como abordar…o cão em angústia respiratória

Publicado 25/07/2023

Escrito por Jasper E. Burke e Deborah C. Silverstein

Disponível em Français , Deutsch , Italiano , Español e English

Como lidar com um cão em angústia respiratória? Este artigo oferece uma revisão da abordagem ideal necessária para avaliar e estabilizar o paciente em estado crítico.

© Dr Céline Pouzot-Nevoret

© Dr Céline Pouzot-Nevoret

Pontos-chave

Os cães em angústia respiratória podem descompensar rapidamente.


A estabilização inicial inclui oxigenoterapia, manuseio mínimo e, quando pertinente, sedação.


A avaliação rápida, mas minuciosa, permite a caracterização do padrão respiratório e a posterior localização do problema.


A angústia respiratória pode ter origem em oito localizações que devem ser investigadas.


Introdução

Existem muitos distúrbios que podem causar angústia (desconforto) respiratória ou dispneia aparente em nossos pacientes. Em sentido estrito, o termo "dispneia" refere-se à sensação de falta de ar; portanto, embora os animais sejam frequentemente descritos como “dispneicos”, o que se observa na realidade é uma “dispneia aparente” ou um maior esforço respiratório. Independentemente da terminologia utilizada, a identificação rápida do problema é essencial para o tratamento; no entanto, como a condição desses pacientes é muito delicada e eles podem descompensar rapidamente, a avaliação diagnóstica completa e minuciosa pode ser um desafio. O histórico e o exame físico e, particularmente, a caracterização do padrão respiratório, podem ajudar a localizar o problema ou a área de preocupação, o que pode orientar as diferentes estratégias diagnósticas e terapêuticas para o paciente. Este artigo revisa os diferentes segmentos do trato respiratório que podem estar envolvidos em casos de dispneia canina e descreve os possíveis diagnósticos diferenciais, bem como o tratamento de emergência para cada um.

A abordagem inicial

Os pacientes com dificuldade respiratória geralmente estão em estado crítico; portanto, é importante a estabilização inicial adequada enquanto se elabora o plano de ação mais adaptado para cada paciente. Em geral, em todos os animais com angústia respiratória, dois princípios-chave devem ser levados em consideração: a suplementação de oxigênio e o nível mínimo de estresse.

A oxigenoterapia não é prejudicial a curto prazo; durante a avaliação, o oxigênio pode ser administrado com máscara facial ou por fluxo livre e, depois, por uma cânula nasal se isso for tolerado pelo animal ou, se preferível, uma gaiola de oxigênio. Essas gaiolas de oxigênio proporcionam um ambiente tranquilo e pouco estressante, além de fornecer uma fração relativamente alta de oxigênio inspirado (40-80%); entretanto, se houver risco de obstrução das vias aéreas superiores (conforme descrito adiante), o paciente deverá ser mantido em uma gaiola posicionada em um local onde qualquer alteração nos ruídos respiratórios (ou seja, piora da obstrução das vias aéreas) possa ser ouvida por pessoas próximas. Os pacientes com obstrução grave das vias aéreas, fadiga ou incapacidade de respirar por conta própria necessitam de intubação endotraqueal. Como regra geral, se o médico-veterinário considerar que a intubação é necessária, esse procedimento deverá ser realizado. A intubação permite fornecer oxigênio a 100%, contornar qualquer obstrução das vias aéreas superiores e assumir o trabalho respiratório. Às vezes, é muito difícil ou impossível realizar a intubação orotraqueal; por essa razão, outros métodos são descritos mais adiante neste artigo.

Minimizar o estresse geralmente envolve o mínimo de manuseio; nesse caso, a administração de sedativos pode ser útil. Após um breve exame físico, o acesso venoso deve ser garantido (se possível), e a sedação administrada, em caso de necessidade. O butorfanol é geralmente preferível como sedativo, em vez de opioides mu puros, pois causa menos depressão respiratória; todavia, em caso de dor, como a de origem pós-traumática, é preferível o uso de opioides mu puros (por exemplo, fentanila em virtude de sua ação curta por natureza) pela falta de analgesia do butorfanol (opioide com atividade mu-antagonista e kappa-agonista). O ideal é a administração intravenosa para obter um efeito mais rápido; contudo, se a colocação de cateter intravenoso acarretar o risco de descompensar o paciente, pode-se lançar mão da via intramuscular. Após a administração de sedativos, o paciente deve ser colocado em uma gaiola para o fornecimento de oxigênio, com temperatura e umidade controladas, e mantido em um ambiente silencioso para minimizar o estresse hospitalar.

Dependendo da gravidade da angústia respiratória, talvez seja necessário realizar o exame físico completo por etapas; parte do exame é manual e requer o uso do estetoscópio, mas uma inspeção visual, mesmo do lado de fora da gaiola de oxigênio, também é muito útil. A exploração deve se concentrar em:

  1. a avaliação geral rápida em busca de alterações externas (por exemplo, evidências de traumatismo ou distensão abdominal);
  2. a determinação do padrão respiratório (por exemplo, presença de taquipneia, esforço inspiratório ou expiratório anormal, estertor ou estridor, padrão restritivo, ortopneia, respiração paradoxal ou alargamento/dilatação nasal);
  3. a  auscultação pulmonar (por exemplo, presença de crepitações, sibilos, aumento ou diminuição de ruídos respiratórios) e
  4. a auscultação cardíaca (por exemplo, para detectar sopro, ritmo de galope ou ritmo anormal).

Com essas informações, o médico-veterinário pode localizar o problema de modo que os planos diagnóstico e terapêutico sejam adaptados ao distúrbio mais provável; além disso, mais informações podem ser fornecidas ao tutor e, em última análise, as taxas de morbidade e mortalidade podem ser minimizadas. Por ser um método não invasivo, a oximetria de pulso costuma ser o primeiro teste a avaliar de forma objetiva o estado de oxigenação do paciente. Também é uma ferramenta útil para avaliar a gravidade da doença e monitorar a melhora ou descompensação do paciente ao longo do tempo; entretanto, esta técnica pode causar estresse a alguns animais, e o resultado deve ser correlacionado com o quadro clínico. Dessa forma, mesmo que um animal com dificuldade respiratória apresente valores normais na oximetria de pulso, ele ainda deve ser considerado um paciente crítico com angústia respiratória até que se prove o contrário. Apesar de ser um teste mais confiável (que também permite calcular o gradiente alvéolo-arterial [A-a]), a gasometria arterial é tecnicamente mais desafiadora e também pode causar um estresse excessivo ao animal. A gasometria venosa, se possível, também pode fornecer informações valiosas sobre o estado ácido-básico e a perfusão (por exemplo, lactato) do paciente, mas, acima de tudo, também pode indicar hipercapnia, o que aumenta a preocupação quanto à falta de ventilação apropriada.

Existem diferentes maneiras de localizar a origem ou causa da angústia respiratória; as autoras utilizam uma classificação feita com base em oito (8) localizações possíveis: vias aéreas superiores (anteriores), vias aéreas inferiores (posteriores), parênquima pulmonar, meio vascular, espaço pleural, parede torácica, distensão abdominal e “mimetizadores” do quadro respiratório (Tabela 1a e 1b).

Tabela 1a. Causas, tratamentos e testes de diagnóstico para angústia respiratória, de acordo com a localização do problema.

Localização Achados do exame Lista de diagnósticos diferenciais
Vias aéreas superiores (anteriores)
  • Dispneia inspiratória
  • +/- estertor/estridor
  • +/- tosse seca conhecida como “grasnar de ganso”, engasgo, ânsia de vômito (vômito seco)
  • Síndrome braquicefálica
  • Colapso traqueal
  • Colapso laríngeo
  • Colapso/estenose nasofaríngeos
  • Trauma 
  • Coagulopatia
  • Tumefação/edema secundário a envenenamento ou intermação
  • Obstrução secundária a massa, corpo estranho, ou abscesso
Vias aéreas inferiores (posteriores)
  • Dispneia expiratória
  • Sibilos expiratórios
  • Bronquite
  • Vermes pulmonares
  • Inalação de fumaça
  • Trauma
  • Obstrução secundária a massa, corpo estranho, ou abscesso
Parênquima pulmonar
  • Aumento do esforço respiratório (inspiratório e/ou expiratório)
  • Crepitações/ruídos pulmonares ásperos
  • +/- diminuição dos ruídos pulmonares em casos graves
  • +/- padrão restritivo
  • Pneumonia
  • Edema pulmonar (cardiogênico vs. não cardiogênico)
  • Doença pulmonar intersticial
  • Neoplasia
  • Trauma/contusões
Meio vascular
  • Taquipneia de início agudo com maior esforço respiratório
  • +/- tosse
  • +/- síncope
  • +/- ruídos pulmonares ásperos
  • +/- crepitações/sibilos
  • +/- ruídos pulmonares abafados
  • Tromboembolia pulmonar
Espaço pleural
  • Esforço inspiratório
  • Padrão respiratório restritivo
  • +/- padrão respiratório paradoxal
  • Ruídos pulmonares diminuídos
  • Derrame pleural (piotórax, quilotórax, hemotórax, neoplasia, outros)
  • Pneumotórax
  • Efeito de massa (neoplasia vs. hérnia diafragmática)
Parece torácica
  • Diminuição do movimento da parede torácica ao respirar
  • +/- movimento abdominal inspiratório
  • +/- lesões/feridas externas
  • Traumatismo
  • Origem neurológica 
Distensão abdominal
  • Abdômen distendido, possibilidade de timpanismo ou onda ascítica
  • Massa
  • Ascite
  • Organomegalia
  • Dilatação gástrica (+/- vólvulo)
  • Prenhez
“Mimetizadores” do quadro respiratório
  • Variáveis
  • Hipertermia
  • Excitação (i. e., agitação)
  • Ansiedade
  • Dor
  • Acidose metabólica
  • Anemia
  • Choque
  • Hipoglicemia
  • Medicamentos (esteroides, opioides, estimulantes)
  • Distensão abdominal

 

Vias aéreas anteriores (superiores)

Do ponto de vista fisiológico, o trato respiratório superior se estende do nariz e da boca até a traqueia ao nível da entrada torácica. Quando essa região é acometida, o exame geralmente revela dispneia inspiratória (embora alguns animais também apresentem esforço expiratório). Também é possível detectar a presença de estertor ou estridor inspiratório, tosse seca (tipo grasnar de ganso), engasgo ou ânsia de vômito (vômito seco). O histórico clínico e a identificação do animal são úteis; por exemplo, um Bulldog excitado (i. e., agitado), um Labrador de idade mais avançada que corre em um dia de calor na primavera ou um Pitbull jovem que foi visto brincando com um bastão ou varinha são casos que podem nos levar a suspeitar de síndrome braquicefálica, paralisia laríngea (i. e., os sintomas são piores em climas quentes e úmidos) ou corpo estranho oral, respectivamente. Outros diagnósticos diferenciais incluem obstrução em qualquer ponto das vias aéreas (secundária a massa, corpo estranho, ou abscesso), colapso traqueal, colapso laríngeo, colapso/estenose nasofaríngeo, traumatismo, coagulopatia, ou tumefação/edema secundário a envenenamento ou intermação.

Tabela 1b. Causas, tratamentos e testes de diagnóstico para angústia respiratória, de acordo com a localização do problema.

Localização Tratamentos de emergência Testes diagnósticos
Vias aéreas superiores (anteriores)
  • Oxigênio
  • Sedação (butorfanol, acepromazina)
  • +/- intubação
  • +/- corticosteroides
  • Exploração das vias aéreas sob sedação
  • Radiografias cervicais/torácicas
  • +/- fluoroscopia
  • +/- traqueoscopia
  • +/- TC do tórax
Vias aéreas inferiores (posteriores)
  • Oxigênio
  • +/- broncodilatadores 
  • Radiografias torácicas
  • +/- lavagem endotraqueal ou transtraqueal
  • +/- fluoroscopia
  • +/- broncoscopia
  • +/- TC do tórax
  • +/- fenbendazol
Parênquima pulmonar
  • Oxigênio
  • +/- furosemida vs. antibióticos vs. corticosteroides vs. outros
  • Ultrassonografia no local de atendimento
  • Radiografias torácicas
  • +/- ecocardiografia
  • +/- TC do tórax
  • +/- lavagem endotraqueal
Meio vascular
  • Oxigênio
  • Heparina
  • Tratamento da causa subjacente

  • +/- trombólise
  • Radiografias torácicas
  • Hemograma completo
  • Bioquímica
  • D-dímero
  • Ecocardiografia
  • +/- ultrassonografia abdominal
  • +/- TC com angiografia
Espaço pleural
  • Oxigênio
  • +/- toracocentese
  • Ultrassonografia no local de atendimento
  • Radiografias torácicas
  • +/- análise do líquido pleural
Parece torácica
  • Oxigênio
  • +/- intubação
  • +/- tratamento da dor com medicação analgésica
  • +/- antibióticos
  • Gasometria
  • Radiografias torácicas
  • +/- Ultrassonografia no local de atendimento
  • +/- hemograma completo
  • +/- bioquímica
  • +/- ressonância magnética/punção de líquido cefalorraquidiano
  • +/- teste de anticorpos contra o receptor de acetilcolina
  • +/- teste de toxina botulínica
  • +/- eletromiografia 
Distensão abdominal
  • +/- Oxigênio
  • +/- abdominocentese, descompressão, cirurgia se necessário
  • +/- Ultrassonografia no local de atendimento
  • Radiografia ou ultrassonografia abdominal
“Mimetizadores” do quadro respiratório
  • Variable
  • +/- tratamento da dor com medicação analgésica
  • +/- ansiolíticos
  • Tratamento do processo patológico subjacente
  • Oximetria de pulso
  • Pressão arterial
  • Exame de sangue (hematócrito, gasometria, estado ácido-básico)
  • Radiografias torácicas

 

Como esses pacientes costumam estar muito estressados devido ao esforço para respirar, é recomendável a sedação com butorfanol e/ou acepromazina. Após a sedação, o paciente precisa ser cuidadosamente monitorado para detectar se ele fica muito relaxado e incapaz de ventilar ou se as vias aéreas superiores se estreitam ainda mais em virtude da diminuição do tônus muscular. Se houver suspeita de obstrução das vias aéreas superiores, é recomendável o preparo do animal para uma intubação iminente. A qualidade do ruído respiratório de um cão com as vias aéreas obstruídas pode sofrer alteração ou até mesmo deixar de ser emitido apesar do aumento acentuado no esforço respiratório; neste ponto, embora a intubação seja necessária, pode ser difícil executá-la, dependendo da causa da obstrução (por exemplo, massa, inflamação, etc.). Para a intubação, é recomendável o uso de tubo endotraqueal, porém de pequeno calibre; no entanto, se a via aérea estiver comprometida, pode-se utilizar um cateter de borracha vermelha ou cateter de troca de vias aéreas para fornecer o oxigênio (Figura 1). Alguns distúrbios funcionais, como paralisia laríngea, podem ser facilmente diagnosticados por meio do exame das vias aéreas no momento da intubação; portanto, a avaliação das vias aéreas superiores (tecido laríngeo, palato mole, orofaringe) pode ser algo urgente, mas isso não deve retardar a intubação nem a administração de oxigênio. Caso não seja possível intubar com algo maior do que um cateter ou um cateter de troca de vias aéreas, pode ser necessária a realização de traqueostomia temporária de emergência (idealmente após a colocação de tubo menor, a fim de permitir certo grau de oxigenação durante o procedimento). A traqueostomia pode ser realizada com um tubo endotraqueal se os tubos transtraqueais (idealmente canulados) não estiverem disponíveis, usando a técnica descrita na referência 1.

Cateter de troca de vias aéreas

Figura 1. Cateter de troca de vias aéreas. Pode ser usado em intubações difíceis quando a via aérea se encontra estenosada (i. e., estreita) ou parcialmente obstruída. Note que a extremidade possui orifícios para permitir o fluxo de oxigênio, e a parte superior apresenta um conector que pode ser acoplado a uma bolsa de Ambu ou a um circuito de ventilação. Uma vez posicionado corretamente, o conector pode ser desacoplado para colocar um tubo endotraqueal maior sobre o cateter de troca, o que então será removido, deixando o tubo de tamanho mais adequado no local. Alternativamente, se um tubo maior não puder ser colocado, pode-se usar o cateter de troca de vias aéreas como uma medida temporária para fornecer oxigênio, enquanto se realiza uma traqueostomia de emergência.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

Alguns pacientes podem apresentar temperatura corporal elevada (por exemplo, por intermação) ou eles podem superaquecer no ambiente hospitalar ao apresentar esforço respiratório e incapacidade de perder calor pelas vias aéreas. Se este for o caso, talvez seja necessário resfriar o animal (umedecendo os pelos com água tépida, fazendo uso de ventiladores, proporcionando um ambiente fresco, etc.) para reduzir a temperatura corporal para 39,4°C/103°F. No entanto, não é recomendável baixar a temperatura abruptamente abaixo desse ponto, pois isso pode levar a hipotermia de rebote (hipotermia iatrogênica). Muitos desses cães desenvolvem inflamação das vias aéreas decorrente do trauma tecidual causado pela respiração através de uma obstrução; portanto, a administração de corticosteroides em doses anti-inflamatórias (por exemplo, fosfato sódico de dexametasona a 0,1 mg/kg IV em dose única) pode ser considerada. Alguns pacientes também desenvolvem edema pulmonar pós-obstrutivo; nesse caso, para detectar tal complicação, pode ser útil monitorar os níveis de oxigenação, realizar a auscultação e/ou obter radiografias do tórax.

Uma vez estabilizado o paciente, o diagnóstico deve ser orientado para a identificação da causa da obstrução das vias aéreas superiores. Um exame das vias aéreas com o animal sob sedação é indicado para pesquisar a existência de anormalidades na orofaringe e laringe, como síndrome braquicefálica, paralisia ou colapso laríngeo, ou a presença de qualquer massa ou corpo estranho. Radiografias cervicotorácicas, seguidas de fluoroscopia, podem ser consideradas na suspeita de colapso da traqueia ou efeito de massa. Testes avançados de diagnóstico por imagem, como tomografia computadorizada, e exploração mediante, por exemplo, traqueoscopia ou nasofaringoscopia, também podem ser necessários caso não se consiga identificar a causa da obstrução com métodos menos invasivos.

Jasper E. Burke

Dependendo da gravidade da angústia respiratória, pode ser necessário realizar um exame físico completo por etapas; embora parte do exame seja manual e exija o uso do estetoscópio, a inspeção visual, mesmo do lado de fora da gaiola de oxigênio, também é muito útil.

Jasper E. Burke

Vias aéreas inferiores (posteriores)

As vias aéreas inferiores compreendem o restante do trato respiratório, desde a traqueia intratorácica na entrada torácica até os alvéolos. Os pacientes com doenças do trato respiratório inferior geralmente apresentam estreitamento do lúmen brônquico – que, no caso, permanece aberto durante a inspiração, mas tem a tendência a se fechar durante a expiração, causando dispneia expiratória e, às vezes, movimento de impulso expiratório. Sibilos expiratórios podem ser detectados na auscultação. Em cães, a doença mais comum nesta localização é a broncomalácia, observada em casos de bronquite em estágio terminal, embora outras causas, como traumatismos, vermes pulmonares, inalação de fumaça ou de substâncias tóxicas e obstruções (por exemplo, secundárias a estenose ou corpo estranho) também sejam possíveis.

Nesses pacientes, além do aporte de oxigênio, a administração de broncodilatadores, como a terbutalina, pode ser benéfica; no entanto, em cães com suspeita de cardiopatia significativa, deve-se ter um cuidado especial, uma vez que a terbutalina pode aumentar a frequência cardíaca. Uma vez estabilizado o paciente, é aconselhável obter uma radiografia do tórax para investigar a presença de padrão brônquico ou broncointersticial (Figura 2), embora a sensibilidade diagnóstica da radiografia para doenças brônquicas em cães seja relativamente baixa 2. Portanto, deve-se considerar a realização de outros exames, como lavagem endotraqueal ou transtraqueal com avaliação citológica. Fluoroscopia, broncoscopia ou TC podem ser consideradas para detectar colapso traqueal ou brônquico dinâmico (se não visualizado nas radiografias), massas ou nódulos traqueais, bronquiectasia, ou produção excessiva de muco. A correlação entre esses testes pode ser relativamente baixa no caso de doenças do trato respiratório inferior; por isso, o ideal é combinar vários testes 3,4. Por fim, o teste fecal de Baermann pode ser considerado para detectar parasitas pulmonares, embora o tratamento empírico com fembendazol seja frequentemente escolhido. Diante da suspeita de bronquite, pode-se recomendar a administração de corticosteroides, com redução gradual da dose; alguns médicos-veterinários preferem usar a fluticasona inalada como tratamento de longo prazo para diminuir a absorção sistêmica e os efeitos colaterais.

Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b)

Figura 2. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) de cão com bronquite em fase terminal. Observe o grave padrão brônquico difuso.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

Parênquima pulmonar

As doenças do parênquima pulmonar também compreendem as enfermidades intersticiais. Os achados típicos do exame incluem a auscultação de crepitações ou ruídos respiratórios altos, embora esses ruídos também possam estar diminuídos em cães com doenças graves indutoras do acúmulo de líquido e de colapso de uma parte dos pulmões e, portanto, da falta de fluxo de ar. Esses cães podem apresentar esforço inspiratório, esforço expiratório ou ambos, e exibir um padrão respiratório restritivo, com respirações curtas e superficiais com ou sem esforço abdominal.

A lista de diagnósticos diferenciais é bastante ampla e extensa, incluindo pneumonia, edema pulmonar, doenças pulmonares intersticiais, neoplasias (primárias ou metastáticas), traumatismos (contusões) ou SARA (síndrome da angústia respiratória aguda). A pneumonia pode ser por aspiração ou secundária a causas infecciosas (bacterianas, virais ou parasitárias). O edema pulmonar pode ser de origem cardiogênica ou não cardiogênica. As enfermidades pulmonares intersticiais incluem fibrose pulmonar idiopática, cardiopatia (dirofilariose) e, mais raramente, broncopneumopatia eosinofílica. Se detectados, sinais clínicos mais específicos podem ajudar a aumentar a suspeita da causa subjacente; por exemplo, em cães com edema pulmonar cardiogênico, observam-se sopros ou arritmias, enquanto cães com pneumonia podem apresentar tosse, secreção nasal mucopurulenta e, às vezes, febre, e a presença de hemoptise pode ocorrer em casos de hemorragias/contusões. Os cães com suspeita de SARA geralmente desenvolvem angústia respiratória dentro de 3-7 dias após o evento precipitante (i. e., gatilho subjacente) ou fator de risco (por exemplo, sepse, pneumonia, cirurgia) e, nos testes de diagnóstico por imagem, há evidências de edema não secundário à sobrecarga hídrica ou disfunção cardíaca. Esses pacientes devem ser encaminhados a um hospital veterinário especializado para investigação adicional e cuidados de suporte rigorosos. A identificação do animal também pode ser útil para estreitar a lista de diagnósticos diferenciais (por exemplo, fibrose pulmonar idiopática em West Highland White Terrier e broncopneumopatia eosinofílica em Husky).

Em geral, dada a quantidade de diagnósticos diferenciais, é necessária a realização de testes de diagnóstico para determinar o tratamento definitivo; no entanto, o animal deve estar estável o suficiente para realizar esses testes com segurança, a fim de que o tratamento empírico possa ser iniciado, pois o estado respiratório pode não melhorar apenas com a oxigenoterapia. Por exemplo, o grau de suspeita de insuficiência cardíaca congestiva pode ser maior em cão de pequeno porte com doença pulmonar localizável, sopro alto e taquicardia; por essa razão, pode-se administrar a furosemida de forma empírica. Caso a ecocardiografia possa ser realizada, o ideal é determinar o diâmetro do átrio esquerdo e da raiz aórtica para calcular a relação e assim avaliar o tamanho da câmara cardíaca; se o valor dessa razão for maior que 1,6, pode-se considerar que o aumento do átrio esquerdo provavelmente se deve à doença cardíaca (Figura 3) 5. Se um cão apresentar dispneia, temperatura corporal elevada e secreção nasal mucopurulenta, deve-se suspeitar de pneumonia e iniciar antibioticoterapia empírica.

Ultrassonografia no local de atendimento

Figura 3. Ultrassonografia no local de atendimento para avaliar a relação entre o tamanho do átrio esquerdo e a aorta. A linha tracejada em vermelho representa o diâmetro da raiz aórtica, e a linha tracejada em azul, o átrio esquerdo. Nesse paciente, a relação é de 3:1, o que é compatível com aumento de volume do átrio esquerdo.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

As radiografias torácicas são os principais testes de diagnóstico para doenças do parênquima pulmonar no cão (Figura 4), juntamente com a ultrassonografia no local de atendimento, se disponível, e a ecocardiografia quando as cardiopatias constituem uma parte importante do diagnóstico diferencial (Figura 5). Enquanto se aguarda a avaliação diagnóstica inicial, pode-se indicar a realização de TC torácica e lavagem endotraqueal. Os achados ajudarão a determinar se o tratamento deve consistir na administração de antibióticos, diuréticos, corticosteroides, broncodilatadores ou apenas oxigênio.

Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b)

Figura 4. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com pneumonia infecciosa. Observe o padrão alveolar nos lobos pulmonares cranial direito, médio direito e cranial esquerdo.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b)

Figura 5. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com insuficiência cardíaca congestiva. Observe a cardiomegalia do lado esquerdo, o padrão alveolar de para-hilar a intersticial difuso, e a distensão venosa pulmonar moderada.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

Vascular

Para alguns médicos-veterinários, a doença vascular, ou seja, a tromboembolia pulmonar, é classificada como uma subcategoria de enfermidade pulmonar; entretanto, por não afetar o parênquima, as autoras a consideram uma causa à parte. A tromboembolia pulmonar é um quadro de difícil diagnóstico, exigindo uma investigação minuciosa e completa para identificar a causa subjacente da hipercoagulabilidade, uma vez que os animais correm risco contínuo de doença embólica se a causa primária não for identificada e corrigida. Existem muitos distúrbios que podem causar hipercoagulabilidade e, consequentemente, levar a tromboembolia pulmonar, incluindo nefro ou enteropatias perdedoras de proteínas, hiperadrenocorticismo, anemia hemolítica imunomediada, neoplasias, sepse e traumatismos. Os achados do exame podem variar, mas costumam incluir taquipneia de início agudo e aumento do esforço respiratório e, possivelmente, tosse, síncope ou transtornos mentais (i. e., atividade mental anormal). A auscultação pode ser normal ou revelar ruídos pulmonares altos, crepitações ou sibilos. Em caso de derrame pleural concomitante, os ruídos pulmonares podem estar diminuídos.

Tal como em outras condições discutidas anteriormente, o tratamento de suporte inicial inclui a administração de oxigênio e a colocação de cateter intravenoso enquanto se realiza a investigação diagnóstica. As radiografias torácicas podem revelar diversas anormalidades, incluindo dilatação da artéria pulmonar principal, presença de infiltrados intersticiais ou alveolares, áreas radiolúcidas (i. e., radiotransparentes) no parênquima periférico secundárias a oligoemia (“sinal de Westermark”), cardiomegalia, derrame pleural ou nenhuma anormalidade. De fato, a tromboembolia pulmonar deve fazer parte do diagnóstico diferencial de pacientes que apresentam taquipneia e dispneia aparente, mas com radiografias normais, principalmente se houver fatores de risco concomitantes. É recomendável a realização de hemograma completo e perfil bioquímico para investigar as causas subjacentes; podem ser detectadas a anormalidade de trombocitopenia e/ou a presença de esquistócitos. O perfil de coagulação (incluindo especificamente o D-dímero) pode ser útil para elevar o grau de suspeita, mas um resultado normal desse dímero não exclui a tromboembolia pulmonar, e o D-dímero elevado não é específico da doença 6,7. Uma ultrassonografia abdominal deve ser realizada para descartar malignidade ou foco de sepse, se clinicamente indicada. Ocasionalmente, a ecocardiografia pode revelar evidências de trombos ou alterações na estrutura e função cardíacas associadas à tromboembolia pulmonar (por exemplo, hipertensão pulmonar) 8. A TC com angiografia pode ser indicada para identificar êmbolos, mas isso talvez exija anestesia geral. Além disso, um resultado negativo na TC não exclui a tromboembolia pulmonar. Em última análise, a causa subjacente deve ser tratada e, se houver alto grau de suspeita, recomenda-se a administração de anticoagulantes como a heparina. Também se pode considerar o uso de terapia trombolítica, tendo em mente o potencial risco de hemorragia.

Deborah C. Silverstein

Em geral, dois princípios-chave devem ser levados em consideração para todos os animais com angústia respiratória: a suplementação de oxigênio e o nível mínimo de estresse.

Deborah C. Silverstein

Espaço pleural

As doenças do espaço pleural resultam no acúmulo de material no espaço entre os pulmões e a parede torácica, o que causa compressão pulmonar, limitando sua capacidade de expansão. Esse material pode ser líquido (como no derrame pleural), ar (pneumotórax), ou efeito de massa (neoplasia ou hérnia diafragmática). Tipicamente, esses animais apresentam um padrão respiratório restritivo, com respirações curtas e superficiais, esforço inspiratório com esforço abdominal, e ruídos pulmonares diminuídos (ventralmente em caso de líquido e dorsalmente na presença de ar). Os animais também podem exibir um padrão respiratório paradoxal, uma vez que o diafragma se desloca caudalmente durante a inspiração, e o abdômen sobe à medida que o tórax desce. Nesses casos, a ultrassonografia no local de atendimento é útil para confirmar a presença de derrame ou pneumotórax (ausência do sinal de deslizamento), embora as radiografias torácicas também possam confirmar o diagnóstico. Se o exame for compatível com doença do espaço pleural, a ultrassonografia não estiver disponível e o paciente não estiver estável o suficiente para obter as radiografias, recomenda-se a realização de toracocentese terapêutica para aliviar a angústia respiratória. Se um líquido de derrame for obtido, a amostra deverá ser analisada, considerando-se a realização de cultura e antibiograma (i. e., teste de sensibilidade), uma vez que a lista de diagnósticos diferenciais é variada, incluindo neoplasias, piotórax, quilotórax, insuficiência cardíaca, hemotórax, torção de lobo pulmonar, e hérnia diafragmática. É recomendável a determinação de hematócrito ou volume globular, proteínas totais, sólidos totais, glicose e lactato, bem como a avaliação citológica do líquido do derrame na própria clínica para pesquisar hemotórax, transudato versus exsudato, ou derrame séptico. Após a toracocentese, as radiografias são recomendadas para identificar uma possível causa subjacente, como bolha pulmonar, massa pulmonar ou cardiomegalia (Figuras 6 e 7). A TC também pode ser indicada enquanto se aguardam os resultados da avaliação inicial. Se o paciente necessitar de múltiplos procedimentos de toracocentese, deve-se considerar a colocação de dreno torácico enquanto outros testes de diagnóstico continuam a ser realizados e/ou até que o tratamento definitivo seja instituído (por exemplo, cirurgia em caso de pneumotórax espontâneo secundário a bolhas pulmonares).

alterações alveolares focais

Figura 6. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com derrame pleural. Este paciente também apresentava alterações alveolares focais no lobo médio do pulmão direito, potencialmente secundárias a derrame pleural ou pneumonia concomitante.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

cão com pneumotórax

Figura 7. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com pneumotórax. Este cão foi atropelado por um carro e apresentou enfisema subcutâneo e derrame peritoneal (hemoabdômen) concomitantes.
© D. Silverstein/J. Burke/University of Pennsylvania

Parede torácica

As doenças da parede torácica incluem aquelas que afetam o esqueleto, a musculatura e os nervos relacionados com essa parede do tórax. Esses animais tendem a estar hipoventilados, com diminuição do movimento da parede torácica e, às vezes, aumento do movimento abdominal durante a inspiração. Os diagnósticos diferenciais mais comuns são traumatismos e etiologias neuromusculares. No caso de lesões traumáticas, o histórico clínico ou o exame externo geralmente indicam o que pode ter ocorrido. Além da presença de qualquer lesão externa, pode-se observar um tórax instável ou “flácido”: definido como a fratura de duas ou mais costelas adjacentes em pelo menos dois locais, dorsal e ventralmente, fazendo com que uma porção da parede torácica se torne instável e se mova para dentro durante a inspiração espontânea. Nesses casos, é recomendável a administração de analgésicos (de preferência, opioides mu puros, como fentanila ou metadona); além disso, as feridas devem ser cobertas, e o cão colocado em decúbito lateral com o lado afetado (ou seja, o segmento flácido) na mesa para estabilizar a parede torácica e promover a ventilação com o lado menos lesado do tórax. Esses pacientes também podem ter enfermidades nos pulmões e/ou no espaço pleural (por exemplo, contusões pulmonares ou pneumotórax); por isso, os achados da auscultação são variáveis. A ultrassonografia no local de atendimento pode ser útil na identificação de algumas anormalidades (por exemplo, derrame pleural, edema pulmonar, ou sinal de deslizamento ausente). Se as alterações não forem evidentes de imediato, as radiografias do tórax poderão ter utilidade para demonstrar a penetração intratorácica, caso em que se indica a intervenção cirúrgica (Figura 8). Todas as feridas externas devem ser avaliadas, e o médico-veterinário deve estar preparado para um exame do tórax, independentemente dos resultados das técnicas de diagnóstico por imagem. Isso acontece porque as feridas externas muitas vezes não revelam toda a extensão da lesão. 

As causas neurológicas podem ser de origem central, como intracranianas (por exemplo, causas neoplásicas, infecciosas, inflamatórias, vasculares), da coluna vertebral cervical (por exemplo, hérnia de disco intervertebral, neoplasias, causas infecciosas, inflamatórias ou vasculares), de lesões do nervo frênico, bem como de lesões periféricas, incluindo miastenia grave, botulismo, paralisia por picada de carrapato, polirradiculoneurite, ou tétano. O exame neurológico e musculoesquelético ajudará a diferenciar essas causas: animais com distúrbios intracranianos podem apresentar um estado mental alterado, enquanto aqueles com coluna cervical afetada podem ter uma atividade mental normal, mas ser tetraplégicos; já os animais com condições periféricas podem exibir paralisia flácida ou rígida, dependendo da causa. Nesses casos, pode haver disfunção dos músculos da parede torácica e do diafragma, e os animais podem apresentar respiração muito superficial e de boca aberta (“boca de peixe”). Nesses pacientes, é provável que haja necessidade de intubação e ventilação manual ou mecânica. Em casos aparentemente menos graves, pode ser útil realizar uma gasometria venosa para determinar se há hipercapnia, caso em que a intubação e a ventilação assistida também seriam indicadas. Os tratamentos mais específicos dependerão do diagnóstico e da causa da hipoventilação. Em cães com suspeita de doença de origem intracraniana ou da coluna vertebral cervical, pode ser necessária a realização de ressonância magnética como último recurso, mas antes, a avaliação inicial deve incluir exames de sangue (hemograma completo e bioquímica) e radiografias de tórax (e do pescoço, no caso de mielopatia cervical). Em pacientes com suspeita de causa periférica, pode ser útil a realização de exame exaustivo e completo em busca de carrapatos (e a aplicação tópica preventiva de uma dose de antiparasitário contra esses ectoparasitas), além de testes de anticorpos contra o receptor de acetilcolina para o diagnóstico de miastenia grave e/ou avaliação da resposta à neostigmina e testes séricos ou fecais para a identificação de toxina botulínica, bem como eletromiografia assim que o paciente estiver estabilizado.

Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com ferida penetrante no tórax secundária a uma mordida.

Figura 8. Radiografias torácicas em posições dorsoventral (a) e lateral (b) em cão com ferida penetrante no tórax secundária a uma mordida. Observe a ruptura da parede torácica cranial direita na altura do terceiro espaço intercostal. Este cão também teve uma fratura com deslocamento da terceira costela do lado direito.
© Christiana Fischer, VMD

Distensão abdominal

A distensão abdominal pode provocar angústia respiratória ao limitar o movimento caudal do diafragma e, assim, impedir a expansão pulmonar. A distensão abdominal pode ser atribuída a várias causas, incluindo a presença de massas, ascite, organomegalia, dilatação gástrica (+/- vólvulo) e gestação. O exame físico geralmente revela distensão evidente, o que pode incluir a palpação de onda ascítica ou abdômen timpânico, exigindo a realização de técnicas de diagnóstico por imagem na região abdominal (como radiografias, ultrassonografias, inclusive aquelas feitas no local de atendimento, se disponíveis). Embora a administração de oxigênio não cause danos a esses pacientes, o problema abdominal precisa ser tratado para aliviar a pressão no diafragma.

“Mimetizadores” do quadro respiratório

Uma série de outros processos patológicos pode mimetizar a dispneia aparente: hipertermia, ansiedade, excitação (i. e., agitação), dor, acidose metabólica (p. ex., respiração de Kussmaul associada à acidemia grave), anemia, choque, hipoglicemia, e efeito de diversos fármacos (p. ex., estimulantes, opiáceos, ou corticosteroides) podem se manifestar de forma semelhante à dispneia. O histórico e o exame físico, bem como os testes de diagnóstico, como oximetria de pulso (normal), exames de sangue (por exemplo, gasometria arterial para verificar a oxigenação normal, gasometria venosa para avaliar o estado ácido-básico, hematócrito ou volume globular, hiato aniônico, etc.) e radiografias torácicas, podem ajudar a determinar se o quadro se trata ou não de dispneia verdadeira. Analgésicos ou ansiolíticos também podem ser úteis, mas, em última análise, haverá a necessidade de tratamento da causa subjacente para resolver as alterações respiratórias detectadas no exame.

Considerações finais

O tratamento de cães com angústia respiratória pode ser estressante. Como o estado desses animais é delicado, o médico-veterinário deve trabalhar de forma eficiente com o mínimo de manuseio para evitar a descompensação do paciente. A avaliação inicial inclui a estabilização por meio da administração de oxigênio e, possivelmente, com o uso de sedativos, juntamente com o estabelecimento de acesso intravenoso, se possível, pois a realização de gasometria (ou seja, a mensuração dos gases sanguíneos) pode ser útil. Um breve exame focado na auscultação e na caracterização do padrão respiratório ajudará a localizar o processo patológico. Uma vez localizado o problema, a investigação diagnóstica sistemática e apropriada pode ajudar a identificar e tratar a causa, embora o tratamento empírico feito com base no histórico e no exame físico às vezes seja indicado quando o cão está muito instável para a realização de testes de diagnóstico adicionais.

Referências

  1. MacPhail C, Fossum TW. Surgery of the Upper Respiratory System. In: Fossum TW, (ed.) Small Animal Surgery, 5th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2018;842-844. 

  2. Mantis P, Lamb CR, Boswood A. Assessment of the accuracy of thoracic radiography in the diagnosis of canine chronic bronchitis. J. Small Anim. Pract. 1998;39(11):518-520.

  3. Johnson LR, Singh MK, Pollard RE. Agreement among radiographs, fluoroscopy and bronchoscopy in documentation of airway collapse in dogs. J. Vet. Intern. Med. 2015;29(6):1619-1626.

  4. Johnson LR, Johnson EG, Vernau W, et al. Bronchoscopy, imaging, and concurrent diseases in dogs with bronchiectasis: 2003-2014. J. Vet. Intern. Med. 2016;30(1):247-254.

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  7. Epstein SE, Hopper K, Mellema MS, et al. Diagnostic utility of D-Dimers in dogs with pulmonary embolism. J. Vet. Intern. Med. 2013;27(6):1646-1649.

  8. Nazeyrollas P, Metz D, Chapoutot L, et al. Diagnostic accuracy of echocardiography-Doppler in acute pulmonary embolism. Int. J. Cardiol. 1995;47(3):273-280.

Jasper E. Burke

Jasper E. Burke

A Dra. Burke se formou na Universidade da Pensilvânia e, posteriormente, concluiu um estágio rotativo em pequenos animais no Animal Medical Center em Nova Iorque Leia mais

Deborah C. Silverstein

Deborah C. Silverstein

A Dra. Silverstein se formou na Universidade da Geórgia Leia mais

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