Como prevenir problemas de comportamento em cães filhotes
Muitos tutores escolhem seu filhote pelos motivos errados, mas Jon Bowen identifica alguns fatores-chave que podem ajudar um filhote a se tornar um ótimo membro da família.
Número da edição 32.1 Outros conteúdos científicos
Publicado 02/08/2022
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Embora possa parecer algo simples oferecer leite a cães recém-nascidos, várias armadilhas aguardam os incautos ou desavisados, como descreve Emmanuel Fontaine.
A composição do leite da cadela difere bastante do leite de vaca ou cabra; portanto, sempre é preferível o uso de substitutos (também conhecidos como sucedâneos) do leite exclusivos para os filhotes caninos.
É comum observar erros de reconstituição com substitutos do leite em pó, o que potencialmente pode induzir a diarreia e/ou constipação em filhotes recém-nascidos.
Um filhote em risco de mortalidade neonatal sempre se beneficiará da suplementação energética mediante o uso de um substituto do leite canino.
A última geração de substitutos do leite contém maltodextrina e imunoglobulina Y – substâncias que ajudam a manter o filhote durante o período neonatal.
Você acaba de fazer o ultrassom, sorri para o cliente e diz: “Parabéns! Sua cadelinha está prenhe". Essa cena pode acontecer em qualquer clínica veterinária, mas ao pendurar o transdutor no aparelho, lembre-se: a consulta está longe de terminar. Na verdade, está prestes a começar uma nova – e muito importante – conversa com o tutor. Parte disso se concentrará na área de neonatologia canina e na forma de prestar os devidos cuidados aos filhotes recém-nascidos; nesse caso, o ditado “Mais vale prevenir do que remediar” é muito útil e verdadeiro. Durante a conversa, os substitutos do leite são um dos principais fatores a ser incluído nos tópicos abordados – e, de fato, os substitutos do leite devem fazer parte de qualquer “kit” de maternidade – mas nesse momento surgem várias dúvidas. Qual escolher? Quais são os aspectos importantes a serem verificados? Quais são as melhores formas de utilizar esses substitutos do leite e quando eles devem ser empregados? Este artigo tem como objetivo responder a todas essas questões e permitir que o médico-veterinário se sinta à vontade para orientar os tutores na clínica.
Muitos tutores acreditam que qualquer leite seja adequado para filhotes recém-nascidos. O leite na geladeira, um substituto do leite humano para bebês comprado em algum supermercado da região, uma fórmula caseira usando uma receita encontrada na Internet…essas são as opções que muitas vezes serão consideradas se o tutor não for devidamente instruído. Portanto, é importante que eles saibam que o leite da cadela se trata de algo muito específico. Isso acontece porque o leite canino, quando comparado com o de outras espécies, é mais denso em termos de energia, possui maiores teores de minerais (p. ex., cálcio e fósforo) e contém mais proteínas (Tabela 1). Obviamente, o leite de vaca ou o leite de cabra (este último é um dos favoritos da Internet) são bastante diferentes no que diz respeito à composição e não oferecem o equilíbrio nutricional adequado para manter um crescimento saudável dos filhotes recém-nascidos.
Tabela 1. Composição média do leite de cadela, vaca e cabra.
Cadela (de 2 ) |
Vaca (adaptado de 3 ) |
Cabra (adaptado de 3 ) |
|
Energia (kcal/L) | 1560 | 630 | 710 |
Proteína (g/Mcal) | 56,7 | 21,8 | 46 |
Cálcio g/Mcal | 2,13 | 0,55 | 1,7 |
Fósforo g/Mcal | 1,37 | 0,48 | 1,46 |
Lactose (g/Mcal)
|
20 | 28,8 | 57,7 |
A osmolalidade se refere à pressão osmótica produzida pelas partículas dissolvidas no leite. Uma grande quantidade de partículas altamente osmolares no trato digestivo do recém-nascido pode induzir a diarreia osmótica e, como o corpo de um filhote é composto por 84% de água 4 é importante evitar isso, principalmente durante o período neonatal. A lactose afetará a osmolalidade do leite e, em função de seus altos níveis no leite de vaca ou no de cabra quando comparados ao da cadela, esse é outro motivo pelo qual é melhor evitar essas opções para caninos recém-nascidos.
Hoje em dia, os substitutos do leite exclusivos para a espécie canina estão amplamente disponíveis e sempre devem ser a opção de preferência. Obviamente, é importante que sua composição seja a mais próxima possível da composição típica do leite da cadela, embora alguns relatos indiquem que nem sempre esse é o caso de certos produtos 2 5, portanto, seria prudente que os médicos-veterinários verificassem isso em caso de dúvida. Alguns substitutos do leite também podem conter vários constituintes “opcionais”, conforme exibido na Tabela 2, mas a maioria dos substitutos do leite exclusivos para a espécie canina é satisfatória, além de proporcionar conveniência e tranquilidade; por isso, seu uso sempre deve ser recomendado em filhotes recém-nascidos. Atualmente, muitos mercados oferecem duas opções para substitutos do leite canino: produtos líquidos ou em pó, e ambos têm seus prós e contras.
Tabela 2. Outros possíveis componentes em substitutos do leite canino.
Componente | Por que considerar? |
DHA (ácido docosahexaenoico) | Vários substitutos do leite são enriquecidos com o DHA, um ácido graxo ômega-3. A cadela tem uma capacidade limitada de produzir esse nutriente durante a lactação 7; assim, foi demonstrado que a suplementação em filhotes recém-nascidos apoia o desenvolvimento das funções cognitivas e oculares 8. |
Prebióticos | Os prebióticos, como fruto-oligossacarídeo (FOS), são encontrados em algumas fórmulas lácteas. Eles ajudam a apoiar a função digestiva do recém-nascido, além de participar do desenvolvimento da saúde imunológica, ajudando a estabelecer e a manter um equilíbrio ideal da microbiota 9. |
Maltodextrina | A maltodextrina é um oligossacarídeo utilizado em fórmulas lácteas para bebês humanos prematuros. Em um estudo recente, um substituto do leite canino foi suplementado com esse ingrediente para fornecer energia extra aos filhotes recém-nascidos (10). A administração do suplemento logo após o parto ajudou a manter a taxa de crescimento precoce e auxiliou na termorregulação corporal, além de reduzir o número de filhotes em risco de mortalidade neonatal. |
Imunoglobulina Y (IgY) | A suplementação de IgY em recém-nascidos demonstrou apoiar o crescimento neonatal. Em filhotes de raças grandes, também foi demonstrado que essa imunoglobulina ajuda no desenvolvimento positivo da microbiota 11. |
Os substitutos do leite na forma líquida são, sem dúvida, mais fáceis de usar. Como esses produtos consistem em uma mistura pronta, não é necessário nenhum preparo, bastando apenas aquecer antes de administrá-los. Eles também evitam o erro mais comum observado ao usar um produto em pó, ou seja, a tendência dos tutores de adicionar muita água (caso em que o produto fica muito diluído) ou água insuficiente (caso em que o produto fica muito concentrado) 6. Todavia, uma vez abertos, os substitutos do leite na forma líquida não devem ser armazenados no refrigerador por muito tempo, mas a recomendação usual é descartá-los em no máximo 72 horas.
Os substitutos do leite em pó, por outro lado, podem ser armazenados por muito mais tempo – normalmente um mês depois de abertos. Conforme mencionado anteriormente, os erros de reconstituição podem ocorrer e ocorrem, o que afetará a osmolalidade do leite, resultando em diarreia ou constipação no recém-nascido. Entretanto, os produtos em pó oferecem a opção de variar a osmolalidade da solução, a fim de tratar algumas condições induzidas pela nutrição, conforme discutido adiante.
Haverá momentos em que um tutor terá que contar com um substituto do leite para garantir que os neonatos caninos sejam devidamente alimentados. Em alguns casos, os filhotes recém-nascidos podem não ter mãe – por exemplo, após algum acidente ou uma complicação anestésica durante a cesariana. Embora não sejam frequentes, tais cenários são imprevisíveis e, quando ocorrem, eles obviamente impedem o aleitamento materno habitual. A outra situação é quando recém-nascidos órfãos são abandonados em um abrigo de animais. Embora esses locais geralmente lidem mais com gatinhos órfãos, às vezes eles também recebem filhotes órfãos de cães, e tanto os funcionários como os pais adotivos nesses estabelecimentos precisam estar munidos de um substituto de leite apropriado. Também é importante não subestimar os riscos do mau comportamento materno; algumas mães negligenciam seus filhotes caninos, enquanto outras podem ser agressivas com eles. Cadelas primíparas são mais propensas a isso 12, e o problema pode ser visto com mais frequência em certas raças (p. ex., Bull Terrier Inglês) 13. Os tutores devem estar cientes desse risco para ajudá-los a prever melhor a situação.
Embora o uso de substitutos do leite seja obrigatório se a mãe sofre de agalactia, a situação não é tão clara quando se trata do distúrbio de lactação mais comumente encontrado em caninos, a mastite aguda. Isso costuma ocorrer logo após o nascimento ou cerca de três semanas após o parto, quando a lactação está no pico 14. Os sinais clínicos envolvem inflamação de uma ou mais glândulas mamárias, muitas vezes acompanhada por uma mudança na cor do leite, geralmente para uma aparência castanho-amarelada. Também podem ser observados sinais mais genéricos – letargia, pirexia, desconforto quando os filhotes mamam – mas esses sinais nem sempre estão presentes. Portanto, é importante recomendar que um tutor examine as glândulas mamárias da fêmea progenitora diariamente. A mastite pode ter um grande impacto nos filhotes caninos recém-nascidos, levando a retardo do crescimento, diarreia neonatal e/ou colite. O tratamento da mastite aguda envolve o uso de antibióticos; nesse caso, as cefalosporinas são frequentemente utilizadas como a primeira linha terapêutica 15. Não obstante, as opiniões divergem sobre o que fazer com os filhotes. Alguns autores recomendam que esses filhotes possam continuar mamando na mãe durante o tratamento (desde que não haja desconforto para ela) e que a continuidade do aleitamento evitará a galactostase (i. e., interrupção da secreção láctea) – o que impactaria negativamente na eficácia terapêutica. Os antibióticos também são excretados no leite, o que pode conferir aos filhotes alguma proteção contra os efeitos colaterais da mastite (embora sempre haja o risco de disbiose e diarreia neonatal; portanto, o clínico deve avaliar caso a caso). Por outro lado, outros autores recomendam que toda a ninhada seja imediatamente transferida para um substituto do leite enquanto a mastite estiver sendo tratada. O raciocínio é o seguinte: como os filhotes recém-nascidos são frágeis e podem sucumbir rapidamente, o consumo de leite contaminado poderia aumentar esse risco. Para prevenir a galactostase na mãe, é possível interromper a lactação com o uso de agentes dopaminérgicos, como a cabergolina 16.
Ambas as opções têm seus prós e contras. A opinião do autor é que a decisão sempre seja tomada tendo como prioridade a saúde dos recém-nascidos. Basicamente, se os filhotes desenvolverem sinais de doença, eles não deverão mamar na mãe, mas sim imediatamente transferidos para um substituto do leite.
Também é importante estar ciente da “síndrome do leite tóxico”, descrita em vários livros didáticos de neonatologia canina. É nesse caso em que alguns filhotes de uma ninhada desenvolvem diarreia ou colite neonatal, apesar de a mãe não exibir sinais clínicos de mastite. Os filhotes afetados não conseguem se desenvolver e sofrem de dor abdominal após a alimentação, embora às vezes apenas um filhote da ninhada apresente sinais clínicos enquanto os outros permanecem bem. Estudos recentes sugerem que isso possa estar relacionado com mastite subclínica 17, que pode ser diagnosticada por meio de exame microscópico do leite (embora esse tipo de teste não seja realizado rotineiramente em clínicas veterinárias) mediante a pesquisa de um aumento no número de neutrófilos por campo de alta potência. A mastite subclínica sempre deve ser um diagnóstico diferencial quando um neonato não está bem, ainda que apenas um único filhote da ninhada esteja exibindo sinais clínicos. Se a mastite for constatada, o filhote deverá ser imediatamente transferido para um substituto do leite e, se outros filhotes começarem a desenvolver os mesmos sinais, seria aconselhável passar toda a ninhada para o produto lácteo.
Emmanuel Fontaine
Assim que um filhote nascer e for devidamente reanimado, deve-se verificar a presença de fenda palatina – uma das anomalias congênitas mais comuns encontradas em filhotes caninos recém-nascidos 18. Em alguns casos, existe a opção de reparar o defeito por meio da técnica de palatoplastia, mas essa cirurgia só pode ser realizada mais adiante, geralmente entre os 2,5-14 meses de vida (dependendo de vários fatores e da preferência do cirurgião). Contudo, durante o período neonatal, os filhotes acometidos pela fenda palatina não conseguem mamar e acabam aspirando o leite. Isso pode causar asfixia por engasgo ou levar ao surgimento de broncopneumonia, que muitas vezes é fatal. Esses riscos diminuem quando o filhote começa a ingerir alimentos sólidos; nesse caso (supondo que os tutores tenham o desejo de considerar a cirurgia em uma data subsequente), pode-se considerar o desmame precoce com 3 semanas de vida. No entanto, nas três primeiras semanas de vida, será obrigatória a alimentação por sonda com um substituto do leite canino adaptado para evitar complicações.
Estudos recentes 19 ajudaram a definir diretrizes para a detecção precoce de filhotes recém-nascidos com risco de mortalidade neonatal (Figura 1), e os tutores devem ser alertados em relação a isso. Esses estudos demonstraram que os filhotes em risco se beneficiarão da suplementação energética e, portanto, esses animais devem receber um substituto de leite adequado quando identificados. As curvas de crescimento também estão começando a ser disponibilizadas para criadores de cães e médicos-veterinários 20 21o que ajudará a monitorar o crescimento dos filhotes durante o período neonatal. Isso pode ajudar na identificação precoce de possíveis problemas, pois a falta de ganho de peso geralmente é um dos primeiros indicadores de más condições de saúde. A suplementação nutricional via substituto do leite certamente é uma opção nesses casos.
A “heterogeneidade da ninhada” refere-se à diferença de peso observada entre os filhotes maiores e menores em uma ninhada. Isso foi recentemente identificado como um fator de risco de mortalidade neonatal precoce 21. Quando se detecta uma alta heterogeneidade da ninhada (p. ex., uma diferença de peso entre 9,9-16,8%, dependendo da raça), a ninhada deve ser sinalizada como potencialmente em risco. Isso também é um lembrete de que, em neonatologia, a ninhada sempre deve ser considerada em sua totalidade. A diferença de peso acentuará a competição pelo acesso às glândulas mamárias; dessa forma, a suplementação com um substituto do leite deve ajudar a minimizar os efeitos deletérios da heterogeneidade.
No desmame, que normalmente começa por volta de 4-4,5 semanas de vida, recomenda-se que a transição do leite para os alimentos sólidos seja a mais suave possível. Caso se faça uso de croquetes, eles deverão ser reidratados durante as primeiras semanas do desmame para facilitar os processos de ingestão e digestão pelos filhotes 22 (Figura 2), e, na opinião do autor, pode-se utilizar um substituto do leite em vez de água durante a primeira semana para facilitar essa transição.
Mais de 18% dos filhotes recém-nascidos não recebem imunoglobulinas suficientes do colostro de suas mães 19. Tais animais são identificados como indivíduos em risco de mortalidade neonatal; nesse caso, os substitutos do leite que contenham imunoglobulina Y (IgY) representam uma opção potencialmente útil. A IgY será absorvida pelo trato digestivo do filhote durante o período em que ocorre a absorção do colostro 24. Embora atualmente a IgY contida nesses substitutos do leite atinja apenas um número limitado de patógenos, seu uso imediatamente após o nascimento faz sentido para garantir que os filhotes recebam pelo menos um grau de proteção contra alguns dos patógenos caninos digestivos mais comuns.
Antes de fornecer um substituto do leite aos filhotes recém-nascidos, estando eles debilitados ou não, é essencial verificar a temperatura corporal. Durante a primeira semana de vida, a temperatura corporal do recém-nascido está entre 35,5-36,5°C. Ele só atingirá a temperatura corporal de adulto três semanas após o nascimento 25 no entanto, se a temperatura do filhote cair abaixo de 34°C, o trato digestivo entra em estase, impedindo a digestão dos alimentos, de tal modo que a administração do leite levará a timpanismo e desconforto abdominal. Este é um erro comum, encontrado particularmente com filhotes órfãos. Os tutores muitas vezes acreditam que a prioridade seja alimentá-los com mamadeira, mas negligenciam o fato de que a primeira coisa a se fazer é verificar a temperatura corporal dos filhotes para garantir uma administração segura do substituto do leite. Como os filhotes não possuem a capacidade de termorregulação durante as três primeiras semanas de vida, eles deverão ser aquecidos antes de serem alimentados com mamadeira caso desenvolvam hipotermia. Lâmpadas infravermelhas, colchões térmicos, bolsas de água quente ou incubadoras são opções a serem consideradas, mas o processo de aquecimento deve ser gradativo, levando pelo menos uma hora antes de iniciar a alimentação com mamadeira.
Os tutores também devem ser alertados quanto à importância de otimizar a temperatura dentro do ninho para evitar a hipotermia e suas consequências. O autor recomenda 30°C dentro do ninho na primeira semana após o nascimento, 28°C na segunda semana e 25°C na terceira semana. Após esse período, os filhotes serão capazes de regular a temperatura corporal, e a hipotermia será menos preocupante.
Conforme mencionado anteriormente, as falhas de reconstituição são o erro mais comum encontrado no preparo de substitutos do leite em pó. Portanto, é importante abordar isso com o tutor e enfatizar o que muitas vezes parece um detalhe trivial – é essencial usar a proporção de água e leite em pó recomendada pelo fabricante. Também é importante lembrar aos tutores que “mais não significa melhor”, pois eles podem pensar que o ato de misturar o pó com outro tipo de leite (p. ex., leite de cabra) levará a uma solução mais densa em termos de nutrientes e benéfica para o recém-nascido. Infelizmente, mais uma vez, isso pode afetar de forma considerável a osmolalidade da solução e levar a distúrbios digestivos neonatais.
Ao alimentar recém-nascidos com um substituto do leite, a alimentação por mamadeira e aquela feita por sonda são as duas únicas opções. O autor acredita que, sempre que possível, se deva dar preferência ao uso de mamadeira. Devem ser utilizados frascos específicos para filhotes, pois eles vêm com bicos adaptados que garantem o fluxo ideal de leite durante a alimentação. Este é um detalhe importante: se o fluxo de leite for muito rápido (p. ex., ao usar mamadeiras de seres humanos em filhotes recém-nascidos de raças pequenas), pode ocorrer aspiração. O autor também prefere usar mamadeira com bicos preparados previamente; algumas são fornecidas com bicos que exigem que a ponta seja cortada antes do uso; entretanto, se isso não for feito corretamente, pode ocorrer uma administração muito rápida de leite, com as mesmas consequências indesejáveis. Também é muito importante falar sobre como segurar o filhote e a mamadeira para alimentação, pois o tutor geralmente acredita que os filhotes devam ser alimentados com mamadeira da mesma forma que um bebê humano. Isso não procede e, novamente, pode levar à aspiração. A Figura 3 mostra a posição correta para dar mamadeira a um filhote.
A alimentação por sonda, por outro lado, deve ficar reservada aos filhotes muito fracos para serem alimentados com mamadeira ou àqueles acometidos por fenda palatina; a sonda não deve ser utilizada simplesmente para alimentar uma ninhada inteira e saudável com mais rapidez. Vale notar que a alimentação por sonda deve ser apenas uma solução temporária (exceto no caso de fenda palatina); assim que o filhote estiver forte o suficiente, ele deve ser transferido para mamadeira ou para alimentação materna, dependendo das opções disponíveis.
Os clientes também devem ser lembrados de que os filhotes recém-nascidos não conseguem defecar ou urinar sozinhos. Trata-se de uma ação reflexa estimulada pela mãe ao lamber a região perineal do filhote; portanto, após cada sessão de alimentação, o tutor deve simular esse reflexo, esfregando a região perineal com uma gaze umedecida com água tépida (morna).
Ao alimentar os filhotes recém-nascidos com um substituto do leite, o autor recomenda 8 refeições por dia durante a primeira semana após o nascimento, 6 refeições por dia na segunda semana e 4 refeições por dia na terceira semana. Também é importante notar que os animais em uma ninhada de filhotes órfãos podem começar a mamar uns nos outros, a ponto de surgir inflamação grave e até abscessos. Esse comportamento costuma ser observado quando os filhotes estão com fome. Contudo, o aumento da quantidade fornecida pode aumentar o risco de diarreia neonatal, em virtude da capacidade digestiva limitada do neonato; portanto, uma opção prática é simplesmente aumentar o número de refeições oferecidas. Por exemplo, durante a primeira semana de vida, em vez de 8 refeições por dia, pode ser recomendado passar para 10. O autor implementou com sucesso essa abordagem em abrigos de animais e, embora obviamente leve mais tempo, talvez seja a solução mais simples para o problema.
Os autores deste estudo não experimentaram nenhuma complicação com esse protocolo e descobriram que os filhotes quase autorregulam sua ingestão de leite. Tendo dito isso, sempre é prudente ter cautela aqui – alguns filhotes vorazes podem comer demais, o que pode levar à diarreia – e o autor observou isso ocasionalmente, sobretudo em cães da raça Labrador Retriever. Portanto, seria prudente recomendar que um tutor não permita que os filhotes excedam o volume máximo recomendado pelo fabricante.
Os substitutos do leite devem fazer parte de todo kit de neonatologia. Todo cliente que possui uma cadela prenhe deve estar munido do substituto de leite correto, mas é importante orientá-lo sobre como evitar alguns dos erros mais comumente encontrados. Existem muitos casos em que os substitutos do leite serão úteis e, quando utilizados corretamente, eles são um grande trunfo para otimizar a saúde dos filhotes recém-nascidos.
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Emmanuel Fontaine
O Dr. Fontaine se formou pela Toulouse Veterinary School (Faculdade de Medicina Veterinária de Toulouse) em 2004 e prosseguiu seus estudos na Alfort Veterinary School (Faculdade de Medicina Veterinária de Alfort), Paris, na unidade de carnívoros domésticos do Departamento de Reprodução. Leia mais
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